quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Os blogs e a emancipação dos leitores-autores

Os blogs parecem ser mesmo um caminho sem volta, tanto para quem tradicionalmente industrializa a informação – jornais, revistas, portais de notícia etc. – quanto para quem tradicionalmente consome e reindustrializa seus produtos: os leitores.

Os principais domínios da comunicação social – o jornalismo e a publicidade – têm notado que os blogs não são rivais dos jornais, revistas e portais de notícia. São, na verdade, aliados importantes, uma vez que servem de disseminadores de informação para espaços sociais e ciberculturais não alcançados pelas mídias tradicionais.

Os blogs despontam, portanto, como uma espécie de loja de varejo de informação, formação e entretenimento, enquanto portais, jornais e revistas vêm se especializando no trabalho de indústria e fornecimento por atacado. Atualmente, em boa parte dos casos, o internauta acessa as matérias de revista primeiramente via blog. São poucos os ciberleitores que vão primeiro ao site da revista.

No que diz respeito ao universo dos leitores, o papel e a contribuição dos blogs são ainda mais importantes. Os leitores também vêm notando que os blogs são sua única saída para fazer valer seu direito de livre e ampla expressão. 

Há nas mídias escritas tradicionais uma forte restrição à fala do leitor comum. Ler jornal, ler revista, ler portal de notícia etc.
são atividades que impõem ao leitor uma condição de assujeitamento. Há nesses casos, uma relação discursiva bastante assimétrica, que praticamente força o interlocutor ao silêncio.

O leitor que quiser realmente dialogar com uma matéria lida terá que superar diversas barreiras técnicas, culturais, econômicas, etc. Além de as mídias tradicionais reservarem pouco espaço para a manifestação dos leitores, algumas questões nem sempre favoráveis – tais como estilo do texto, extensão, orientação ideológica etc. – são levadas em conta na análise dos textos encaminhados à publicação.

É importante dizer que as mídias escritas, principalmente o jornal e a revista, têm contribuído muito para a expansão da prática da leitura. Mas, por limitações técnicas, têm deixado os leitores sem condições de responder, de dialogar.

Percebendo essa impossibilidade, os leitores têm buscado nas redes sociais e blogs caminhos alternativos para exprimir seu mundo, seu locussociocultural de forma mais livre e autônoma, e assim assumir a condição de leitor-autor.

Ao migrarem para a internet, os jornais e as revistas passaram a fornecer ao leitor mais oportunidades de fala. As caixas de comentários colocadas após o final da matéria têm sido um instrumento importante para os leitores dialogarem tanto com o jornal/revista quanto com outros leitores. Através desse recurso eles podem, por exemplo, dizer que a cobertura de algum acontecimento foi superficial, que uma notícia ou reportagem está mal elaborada, que a interpretação dada a determinado evento tem interesse político, etc.

Contudo, oferecer ao interlocutor a possibilidade de comentar uma notícia não significa dar-lhe uma real e suficiente abertura para a livre expressão. De certo modo, a moderação dos comentários (justificada em alguns casos, é claro) serve como instrumento de manutenção da relação assimétrica entre a mídia e o leitor.

 Por exemplo, apesar de todo o movimento em torno do livre acesso à informação na internet, alguns portais de notícias tendem a usar o pagamento de assinatura como critério para selecionar os textos que serão publicados.

Considero importante abordar o processo de controle sobre a fala do leitor, discutindo quais restrições são justificadas e quais não são.

 Contudo, por uma questão de foco, neste momento me limito a mostrar que existe uma ação de poder sobre a escrita e o discurso do leitor-autor.
Seu pronunciamento é moderado/moldado por um conjunto de normas econômicas, editoriais e ideológicas que nem sempre lhe são favoráveis.
Notamos que, diante de certos limites, alguns leitores mais experimentados, e com demanda de escrita, acabam buscando meios de expressão que vão além do simples comentário. Em vez de produzir adendo a outros textos, os leitores-autores buscam escrever seus próprios textos e publicá-los em mídias que lhes garantem a emancipação e autonomia.

Evidentemente, o blog é a mídia que mais se ajusta a esse contexto.
Criado no final dos anos 90, o blog provou ser uma das grandes invenções da cibercultura.  Por ser uma mídia descentralizada e construída para atender as demandas discursivas dos leitores-autores, os weblogs, como eram conhecidos no início, se popularizaram numa rapidez impressionante. 

Estima-se que em 1999 havia em torno de 50 mil blogs; atualmente o número chega a mais de 200 milhões, e, em média, são criados 120 mil por dia.

A grande inovação discursiva dos blogs reside certamente no fato de conceder ao usuário o poder de expressar livremente o seu mundo emocional, social, cultural, político, etc. 

O blog é uma mídia completamente centrada no leitor-autor. Por essa razão, constitui uma espécie de contrabalança discursiva, que dá ao sujeito social comum condições de enfrentar (e também legitimar) as forças ideológicas e políticas dos grandes conglomerados de informação.

As redes sociais também são uma boa invenção, mas têm certas limitações que impedem o aprofundamento do texto. Em geral, leitores-autores que manejam bem a escrita e que possuem uma boa formação sócio ideológica não se contentam em apenas postar um pequeno texto no Facebook ou Twitter. Eles querem escrever ou reproduzir um texto mais denso, que consiga mostrar/problematizar com maior profundidade sua realidade social.

Encerro ressaltando que os blogs constituem um ambiente discursivo bastante produtivo não apenas para a livre disseminação da informação, mas também para outras práticas sociais, como a educação. 

Nesse sentido, parece ser urgente a necessidade de a escola incorporar o blog em suas práticas didáticas, transformando-o numa ferramenta básica para o ensino da leitura e da produção de texto.

Os blogs, ao lado de outras mídias interativas, podem se transformar numa importante agência social de informação e formação, e assim contribuir para a construção de um leitor-cidadão, que seja capaz de interpretar a realidade de forma mais autônoma e crítica.

 O acesso a uma matriz de informação e opinião alternativas, com pouca ligação com os grandes centros do poder, dá condições para que o cidadão-leitor enxergue melhor certos compromissos ideológicos que dão sustentação à indústria da informação oficial e hegemônica.


CAMOCIM INFORMADOS

Nenhum comentário:

Postar um comentário