“Há uma clara insubordinação à Constituição e ao governo, que deveria ser respondida. É espantoso que o Ministério da Defesa e o Ministério da Justiça permaneçam mudos.”
por Pedro Pomar e Rodrigo Vianna
Independentemente das avaliações que faça sobre o alcance real da latente rebelião da extrema-direita militar (e civil) frente à Comissão Nacional da Verdade (CNV) e à própria existência da gestão Dilma, o governo federal não pode se omitir diante da propaganda e convocação de um golpe militar, ou seja, de um movimento armado que pretenda derrubá-lo.
Trata-se de um governo constitucionalmente eleito e em pleno exercício de suas atribuições. Não pode admitir que generais, da ativa ou da reserva, se deem ao direito de disparar mensagens pelas redes sociais (e presumivelmente por outros meios) convocando colegas de farda e apoiadores civis a derrubar o governo.
Pois bem: é exatamente isso que vem acontecendo. Um general de brigada reformado, Paulo Chagas, acaba de postar mensagem no blogue Sociedade Militar em que prega um golpe militar, utilizando como pretexto a recente decisão do STF de absolver os réus da AP 470 do crime de formação de quadrilha!
Nova “Marcha com Deus”, novo golpe?
O militar não explica por que as “pessoas de bem” estariam “acuadas”. Quem as está acuando? Mas o “novo rumo” proposto fica claro no trecho final de seu texto: “As ‘Marchas da Família com Deus Pela Liberdade’, programadas para o mês que inicia, são um bom começo para esta soma de esforços e para reafirmar o que, há cinquenta anos, fez com que o Brasil fosse visto e admirado como a ‘Nação que salvou a si própria’!”.
Em suma, o general está propondo um novo golpe. Novamente contra um governo legítimo, como ocorreu em 1964 contra João Goulart. E as mensagens de apoio que ele vem recebendo, na linha expressa de “Eu apoio a intervenção militar”, e mesmo de um ex-fuzileiro naval que se coloca “à disposição”, sugerem que sua mensagem foi devidamente compreendida.
Quando dezenas de generais das três Armas assinaram e divulgaram virulentos manifestos contra o governo, em 2012, o ministro da Defesa, Celso Amorim, anunciou que haveria punições. Não houve. De lá para cá, generais da ativa e da reserva continuam a a rosnar ameaças, a dar declarações a propósito de assuntos que não lhes dizem respeito, e a proferir insultos contra a CNV. Caso o governo continue fingindo que nada acontece, estará incorrendo novamente em grave omissão.
Há uma clara insubordinação à Constituição e ao governo, que deveria ser respondida. É espantoso que o Ministério da Defesa e o Ministério da Justiça permaneçam mudos. Parece que a Defesa foi “capturada” pelas Forças Armadas, como se costuma dizer de agências nacionais que passam a ser controladas pelos interesses econômicos que deveriam ser fiscalizados e controlados por elas.
Desse modo, permite-se ao fascismo fardado e civil articular-se à vontade e crescer, criando ameaças reais à sociedade brasileira. A Polícia Federal, que vem sendo utilizada para reprimir povos indígenas, e a Agência Brasileira de Informação (Abin), sempre tão atenta aos movimentos sociais de esquerda, não conseguem enxergar o perigo fascista?
O governo petista, também nesse tema, parece submeter sua ação inteiramente ao cálculo eleitoral: se a extrema-direita é minoritária, para que gastar capital político confrontando o discurso golpista?
No próximo dia 22, a extrema-direita promete sair às ruas. Para o general Chagas, a tal “Marcha” seria apenas “um bom começo”. Para a esquerda e os democratas em geral, será o momento decisivo para avaliar: Dilma e Celso Amorim fazem bem ao fingir que nada está acontecendo? Ainda que as Marchas do dia 22 reúnam pouca gente, parece absurdo que um governo legítimo e as forças políticas que o apoiam assistam inertes ao avanço do golpismo.
Aliás, a reação ao golpismo deveria reunir também os setores democráticos da oposição – gente séria que, à esquerda ou ao centro, não aceita que o país caminhe de volta para uma ditadura militar.
CAMOCIM INFORMADOS
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