segunda-feira, 2 de setembro de 2013

FUTEBOL MOLEQUE


Em Fortaleza, o futebol moleque é marca da infância

Para quem ama futebol, basta uma bola e duas marcas de gol para fazer uma final de Copa do Mundo









Seja durante as férias ou depois de terminar a tarefa de casa, todo dia é dia de futebol. Para os praticantes da modalidade na base do improviso, o campo é montado em qualquer espaço que permita a bola rolar – e nem precisa ser no padrão Fifa. Jogador que se garante só tem um critério: esperar a tarde, que é quando o sol forte de Fortaleza “esfria”.

Qualquer terreno baldio serve como o melhor dos campos. Basta um descampado. Se tiver uma pedra ou outra, o pé acostuma. Com dez passadas de distância, dois montinhos demarcam os gols. “Quando a gente faz as traves, o pessoal quebra, aí a gente improvisa com as pedras”, dá a dica Felipe Augusto, 10. De um lado, dois jogadores. Do outro, só um – a igualdade entre os times pouco importa.

O dono da bola, bem velhinha, garante que não é daqueles que estragam o racha quando fica com raiva. “Qualquer coisa, eu vou pra casa e deixo com eles”, jura Graciano Ferreira, 16. Para começar a brincadeira, ele bate de porta em porta chamando os vizinhos amantes do esporte de fim de tarde. Cada atleta tem sua função para preparar o evento. A brincadeira só para quando o fôlego acaba.

Tem futebol que acontece quase nas alturas. Mauro Lopes, 13, diz que a cisterna, a um metro e meio do chão, é o único espaço que sobra para bater bola num condomínio de apartamentos. “A quadra é muito concorrida. Os grandes jogam lá”, ele se explica. Lá de cima não é tão difícil levar uma queda das perigosas. Luan Santos, 13, já foi uma das vítimas da gravidade. A sorte deles é que nenhuma mãe inventou de proibir. “É a vontade de brincar, que é grande”, justifica.

No piso, quatro sandálias marcam a linha do pênalti. As outras marcações foram feitas de tinta. Quase profissional. O que não ajuda muito são as pontas de ferro que brotam do cimento esburacado. “De vez em quando, a gente chuta as vigas e se corta”, conta Mauro.

Nas ruas, o bate-bola não se intimida nem pelos motoristas apressados da hora do rush. “Aqui passa carro o tempo todo. A gente deixa eles passarem e continua a jogar”, é o método de Jocson da Silva, 15, jogador do meio da rua. Com o trânsito intenso, a manutenção da bola é um problema: não é raro uma estourar debaixo de um veículo. Aí é o jeito todos arcarem com o prejuízo. “Na última vez, a gente fez uma ‘vaquinha’ de R$ 2,50 pra cada”, faz as contas Ailton Gonçalves, 15. Para jogar assim, é preciso superar obstáculos. É vizinho reclamando e carro ameaçando atropelar.

Pedra, tijolo, sandália e tudo mais o que aparecer funcionam para dar início à partida. Futebol é sonho de criança e de adolescente, e o treino – seja ele como for e onde for – é o caminho pra ele se tornar realidade.
CAMOCIM INFORMADOS

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