Na entrevista acima ao Último Segundo, do iG, o ex-ministro do STF
(Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim, acusou seu colega Gilmar Mendes de ter
mentido e provocado notícias falsas sobre o encontro mantido com Lula. O
escândalo produzido por Gilmar serviu de espoleta para a catarse desfechada
pela mídia na cobertura da AP 470 e, especialmente, para a reação posterior do
decano Celso de Mello.
Segundo Jobim relatou ao iG, "Na época em que houve um café da
manhã no meu escritório, Lula queria me visitar. Eu tinha saído do Ministério
da Defesa na época, e ele queria me fazer uma visita. E o Gilmar foi convidado
para ir também. Foi uma conversa tranquila, sem nenhuma dificuldade. Eu
perguntei ao Gilmar sobre o andamento do mensalão, se ia votar ou não ia votar.
Ele disse que achava melhor votar logo para resolver o assunto e foi isso.
Trinta dias depois desse café da manhã é que houve essa indignação do ministro
Gilmar fazendo uma versão que não era verdadeira e que, na época, eu neguei.
Continuo negando".
Segundo Jobim, Gilmar Mendes produziu uma falsa indignação trinta dias
depois do encontro. Teria sido apenas uma conversa amigável com Lula. Terminada
a conversa, Jobim e Gilmar ficaram conversando no escritório, na maior
normalidade. Trinta dias depois, Gilmar provoca o escândalo, aparentando uma
falsa indignação. "Trinte dias depois é que eu recebo a notícia de uma
matéria da Veja. Mandei uns SMS que eu tenho guardados ao ministro Gilmar. E
ele disse que houve uma série de coisas, que ele havia conversado com A, com B,
com C. E que a versão que tinha saído na Veja vinha de terceiros. E eu então
disse, mas é curioso. Como assim de terceiros, se éramos só nós três?".
Não foi a primeira vez que Gilmar atuou em dobradinha com a revista Veja
visando influenciar julgamentos no STF. A outra vez foi o falso grampo de uma
conversa dele com o ex-senador Demóstenes Torres, que teria sido gravada.
Jamais apareceram provas da gravação. Além disso, perícias produzidas na
ocasião demonstraram ter sido impossível o grampo no PABX do Senado.
Posteriormente, descobriu-se que Demóstenes trabalhava em parceria com
Carlinhos Cachoeira e ambos em conluio com a revista Veja.
A armação do grampo sem áudio permitiu a Gilmar e à Veja produzir uma
capa escandalosa que ajudou na prorrogação da CPI do Grampo e a anular os
esforços da Polícia Federal e do Ministério Público Federal na Operação
Satiagraha.
Em nenhum dos dois episódios, viu-se qualquer tomada de posição dos
órgãos do Judiciário em relação às manobras de Gilmar.
Na entrevista ao iG, Jobim insinuou haver ministros no STF dispostos a
atropelar a própria Constituição. "Se ele é contrário ao texto
constitucional, renuncie. Ou não vota ou renuncia. Agora, ir contra o texto
constitucional é você subverter totalmente o sistema. A função do Supremo não é
uma função política. É uma função institucional jurídica. A posição do Supremo
é jurídico-política. Claro que você tem a visão dos problemas e as
consequências. Mas você não pode se afastar do sistema legal. Se você se afastar
do sistema legal e resolver ter um voluntarismo legal você vai autorizar
qualquer tipo de voluntarismo em qualquer lugar.
CAMOCIM INFORMADOS
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