segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Clãs familiares na política Cearense.

O velho patrimonialismo, carreirismo e fisiologismo da política cearense

Por Lorena Alves - Repórter Diário do Nordeste - 19.10.2013
O protagonismo dos clãs familiares na política reproduz uma lógica patriarcal e clientelista, apontam especialistas
Historicamente marcada por uma cultura patrimonialista, na qual as esferas pública e privada se confundem, a política brasileira ainda é constituída por clãs familiares que, mesmo ocupando espaços de poder nas capitais e grandes centros urbanos, reproduzem uma lógica patriarcal e ruralista imbricada na história política do País. Cientistas políticos ouvidos pelo Diário do Nordeste afirmam que, por ser tratada como profissão, a política é repassada hereditariamente para assegurar a continuidade de determinado grupo político.
O cientista político Rosendo Amorim diz que, no Brasil, a política é encarada como profissão e passada hereditariamente nas famílias
No Ceará, não são poucas as famílias protagonistas dos núcleos de poder, "donas" de partidos e detentoras de expressivos redutos eleitorais em regiões do Estado. Em algumas situações, familiares optam por estar nas mesmas agremiações, como o governador Cid Gomes, que divide o PROS com os irmãos Ciro Gomes, secretário da Saúde do Ceará, e Ivo Gomes, secretário de Educação de Fortaleza.
Durante muito tempo, o vice-governador Domingos Filho e a esposa, Patrícia Aguiar, que já foi prefeita de Tauá, estavam filiados ao PMDB, enquanto o filho do casal, Domingos Neto, titular da Secretaria Especial da Copa de Fortaleza e deputado federal licenciado, pertencia ao PSB. Hoje, pai e filho estão no mesmo partido, o PROS, mas Patrícia continua no PMDB.
Conveniências

O prefeito de Sobral, Veveu Arruda, integra o PT. A esposa, Izolda Cela, secretária da Educação do Ceará, filiou-se recentemente ao PROS do governador Cid Gomes. Apesar de estarem em partidos diferentes, o casal pertence ao mesmo grupo político, tendo em vista que o PT de Arruda é aliado ao Governo do Estado. Além disso, o núcleo do partido em Sobral, reduto da família Ferreira Gomes, sofre forte influência do governador cearense.
O cientista político Rosendo Amorim, professor da Universidade de Fortaleza, explica que a acomodação das lideranças de uma mesma família nos partidos se dá conforme as conveniências do momento. "Eles se ajustam, vão para um partido porque é mais oportuno", alega.

Para Rosendo Amorim, a estrutura política atual, a despeito de ter passado por uma série de mudanças, reflete aspectos do tradicionalismo. "Mesmo com as mudanças da família contemporânea, existem muitos elementos da chamada família tradicional. As que estão na política têm esse viés. As pessoas vêm do Interior e trazem essa cultura paternalista, clientelista", aponta.

Na opinião do cientista político, as lideranças brasileiras fazem da política uma carreira, e não uma prestação de contas à sociedade. "O que se percebe é que, na política profissional, tem gente que entra e nunca mais sai e alça cargos sempre mais elevados. Às vezes, quando não conseguem se eleger porque o clã está passando por alguma crise, aquelas lideranças ocupam cargos de secretários, por exemplo. No Brasil, os cargos de confiança são usados como barganha", diz.

Emancipação feminina
O papel da mulher no tripé "política, família e poder" merece atenção especial. Embaladas pelo discurso da emancipação feminina, muitas delas encararam os palanques. Entretanto, por trás dessa igualdade de gênero, foram camuflados interesses patriarcais: esposas e filhas de caciques políticos foram lançadas candidatas, mas sempre à sombra de uma figura masculina para legitimá-las ao eleitorado.
Em Caucaia, o ex-deputado federal José Gerardo Arruda conseguiu emplacar candidatura pelo PMDB do filho Gera Arruda, suplente na Câmara Federal; da filha Lívia Arruda, que foi deputada estadual na legislatura passada, e da esposa, Inês Arruda, atualmente suplente na Assembleia Legislativa. Todos utilizam o sobrenome de José Gerardo.

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