quinta-feira, 10 de julho de 2014

PRESIDENTA DEFENDE REFORMA NO FUTEBOL BRASILEIRO

Presidenta Dilma em entrevista à Christiane Amanpour da rede de televisão norte-americana CNN. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Presidenta Dilma em entrevista à Christiane Amanpour da rede de televisão norte-americana CNN. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Em entrevista concedida à rede de televisão norte-americana CNN um dia depois da derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo, a presidenta Dilma Rousseff disse que o futebol brasileiro precisa ser renovado e que o país não pode mais continuar exportando jogadores.
Na íntegra da entrevista com a jornalista Christiane Amanpour, transmitida nesta quinta (10) pela CNN, Dilma falou sobre a derrota da seleção e os investimentos na realização do torneio, mas a conversa extrapolou o tema da Copa. A discussão sobre o crescimento econômico do Brasil, as relações do país com os Estados Unidos depois das denúncias sobre espionagem, o combate à corrupção e a experiência pessoal da presidenta durante os anos da ditadura militar pontuaram o diálogo com a jornalista. Confira, abaixo, os principais pontos da entrevista.
Copa do Mundo e a derrota da Seleção Brasileira
Nós brasileiros, e também todos os torcedores que aqui vieram, nós sabemos que foi uma Copa que transcorreu em paz, com muita alegria, com toda a infraestrutura funcionando. De fato, é muito triste que nós cheguemos nesse momento e tenhamos uma derrota, é muito triste. Agora, isso não elimina nem a luta anterior da Seleção, nem tudo o que foi feito e está sendo feito. Afinal, tem uma característica o futebol: ele é feito de vitórias e de derrotas. Ser capaz de superar a derrota, eu acho que é uma característica de uma grande Seleção e de um grande país.
Mas, a gente também tem de considerar uma coisa, sob todos os aspectos o Brasil fez uma Copa do Mundo que eu acredito que, de fato, foi uma das melhores Copas, e nós devemos isso, em grande parte, ao povo brasileiro, à sua capacidade de ter hospitalidade e de receber bem os torcedores do mundo, e eu espero – e tenho certeza – que todo o mundo vai reconhecer esse fato.
Reforma no futebol brasileiro
(…) quando eu disse que o futebol brasileiro tem de ser renovado, o que eu queria dizer com isso? Eu queria dizer que o Brasil não pode mais continuar exportando jogador. Exportar jogador significa não ter a maior atração para os estádios ficarem cheios. Qual é a maior atração que um país que ama o futebol como o nosso tem para ir num jogo de futebol? Ver os craques. Tem craques no Brasil que estão fora do país há muito tempo. Então, renovar o futebol brasileiro é perceber que um país, com essa paixão pelo futebol, tem todo o direito de ter seus jogadores aqui e não tê-los exportados.
Investimento nos estádios da Copa
Veja bem, nos estádios foram gastos R$ 8 bilhões de reais, mais ou menos US$ 4 bilhões de dólares, nos estados. Esse gasto dos estádios, ele foi financiado pelo governo. Nós gastamos, entre 2010 e 2013, com educação e saúde, nas três esferas de governo, R$ 1,7 trilhões, o que dá aproximadamente US$ 850 bilhões de dólares. Então comparar US$ 4 bilhões com US$ 850 bilhões é absolutamente desproporcional. Nós não gastamos… porque o resto dos gastos fica para o Brasil, não só para a Copa
Tortura nos tempos da ditadura militar
Eu fui presa nos anos 70 e fiquei por três anos num presídio em São Paulo, que hoje está, inclusive, demolido. É uma experiência em que você aprende que é necessário duas coisas: resistir e… e você percebe que só você mesmo pode te derrotar. Não que seja fácil suportar a tortura, não é, e você só suporta a tortura se você se enganar, deliberadamente, dizendo: mais um pouco eu suporto, mais outro pouco eu suporto, e assim você vai indo, e vai indo, e vai indo. A tortura não pode te derrotar, a adversidade não pode te tirar o ânimo de viver e você não pode se contaminar pelo que o torturador acha de você.
(…) O pior era o choque elétrico. É a forma mais… é uma dor que anda. A dor praticada por alguém sobre outra pessoa é algo imperdoável, bárbaro, que quem faz isso tem uma perda de valores humanos, de tudo o que nós conquistamos ao sair das cavernas e nos elevarmos à condição de civilizados. A tortura é uma negação disso, é uma negação do outro. Talvez a pior forma de negação. Por isso nós não podemos aceitar, em lugar nenhum do mundo, a ocorrência de tortura, sob qualquer alegação. Eu nunca vi um processo de tortura não destruir a instituição que pratica, que pratica a tortura. Todos os processos de tortura, historicamente, destruíram quem praticou a tortura. É gravíssimo o Ocidente voltar atrás nessa questão.
Nós derrotamos, no Brasil, a estrutura que praticou a tortura, e foi a ditadura. Ao construir a democracia e construir com padrões que respeitam os direitos humanos… porque no Brasil nós temos, hoje, esse amor perdido pela democracia. Eu acho que isso foi o grande ganho.


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