Os falsos mitos sobre o comércio exterior brasileiro
2 de novembro de 2013 | 12:54
Os jornais hoje dão destaque ao déficit de outubro, de US$ 1,8 bilhão. É um déficit pequeno, causado pelas importações de petróleo. No ano, o saldo deve ficar no positivo, e nos próximos anos, conforme aumentar a produção nacional de combustível, isso deve ser revertido a nosso favor. E o petróleo deixará de ser fator de déficit para um fator de superávit.
Sobre o assunto, reproduzo trecho de um post recente meu, lá no Cafezinho.
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O destaque que os jornais dão ao déficit da balança comercial, contudo, produzem um sentimento negativo na cabeça do leitor, que corresponde a uma interpretação equivocada da realidade. O aumento da importação é uma consequência natural, necessária e inevitável do aumento do poder aquisitivo da população e das empresas. Não há sentido em pintar este fato com tintas negras de uma crise econômica, quando representa exatamente o contrário.
A busca de superávits, naturalmente, é salutar. No caso do Brasil, durante muitos anos, a busca de superávits na balança comercial era uma condição desesperada para o crescimento, em virtude do nosso enorme passivo externo. Endividado no exterior, sem acesso ao crédito internacional, o Brasil precisava produzir enormes superávits externos para assegurar ao mercado que tinha condição de quitar seus débitos.
Não é o caso agora.
Não temos mais dívida externa líquida. Ao contrário, o Brasil hoje dispõe de uma das maiores reservas mundiais de crédito externo. O gráfico acima mostra uma inversão total do quadro que vivíamos até alguns anos atrás.
Os déficits em nossa balança comercial são mínimos e sazonais; ainda mantemos superávits constantes nos acumulados de 12 meses. Nos últimos 12 meses até setembro, por exemplo, o superávit foi de 2 bilhões de dólares. É muito menor do que o registrado no ano anterior, mas não por queda nas exportações, e sim por causa do aumento das importações.
Uma das confusões que a imprensa de oposição faz na cabeça do leitor, quando confere tanto destaque aos déficits na balança comercial, é passar a impressão de que as exportações brasileiras caíram. Ele vê o número negativo, em vermelho, e pensa assim. E pensa assim porque era o objetivo da imprensa distorcer a verdade.
Entretanto, nos últimos dois anos, o Brasil exportou um total de 369 bilhões de dólares. Foram os melhores dois anos da história do comércio exterior brasileiro, mesmo (e principalmente!) se fizermos a correção monetária e cambial.
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A participação das vendas externas do Brasil na exportação mundial vem crescendo sistematicamente nos últimos 10 anos. Em 2003, as exportações brasileiras correspondiam a somente 0,99% das exportações globais; este valor saltou para 1,36% em 2013, segunda melhor performance em mais de dez anos, só abaixo do registrado em 2012, quando chegou a 1,43%.
Entretanto, não podemos nos deixar enganar. Importar é bom. Os mais países mais desenvolvidos do mundo também são os maiores importadores.
Se o Brasil está importando mais é sinal de vitalidade econômica e maior poder aquisitivo da população. Desde que o aumento da importação não se dê paralelamente a um processo de concentração de renda, é uma tendência saudável. Já houve países, como a Venezuela, no período pré-Chávez, em que a importação aumentou durante um período porque sua elite estava consumindo grandes quantidades de uísque importado. Não tenho nada contra uísque importado, muito pelo contrário, mas não é isso que está acontecendo ao Brasil. O principal item na pauta das importações brasileiras é “Bens de Capital”, ou seja, maquinários industriais, o que sugere, mais uma vez, vitalidade econômica. No acumulado do ano (Jan/Set 13), o Brasil importou US$ 38,55 bilhões em bens de capital, aumento de 6,5% sobre o ano anterior.
Outro fator que tem pesado muito em nossa pauta das importações são os derivados de petróleo, o que igualmente corresponde à intensidade da atividade econômica; com a entrada em produção de novos poços, inclusive do pré-sal, já a partir de 2014, o petróleo tende a se tornar cada vez mais um item em favor de nossa balança comercial.
Outro mito que tem sido largamente propagado, inclusive no campo da esquerda, é que o Brasil estaria caminhando para se tornar novamente um exportador de produtos primários. Não é verdade.
É verdade, sim, que temos as maiores jazidas de ferro do mundo, e que a produção nacional de grãos, sobretudo soja, explodiu nos últimos anos. Esses dois itens passaram a “pesar” mais na pauta das exportações, inflando a participação dos produtos básicos.
Mas o Brasil jamais deixou de exportar produtos industrializados, e as exportações destes não parou de crescer. Registraram um baque em 2009, por causa da profunda crise financeira vivida no mundo em 2008, mas já se recuperaram. E triplicaram nos últimos 12 anos. Em 2001, o Brasil exportou US$ 32,9 bilhões em produtos manufaturados e US$ 8,23 bilhões em semimanufaturados. Em 2012, exportamos US$ 90,7 bilhões em manufaturados e US$ 30,0 bilhões em semimanufaturados.
Tão importante quanto, o Brasil diversificou suas vendas de manufaturados para um leque muito maior de compradores, com ênfase na América Latina, que paga os melhores preços.
Outra estatística a qual devemos prestar atenção é a evolução da corrente de comércio, que soma exportação e importação. Ela é o principal indicador da vitalidade do comércio exterior de um país. Neste quesito, o primeiro semestre de 2013 foi o melhor da nossa história, totalizando US$ 231,94 bilhões. E as importações propriamente ditas também foram recordes em Jan/Jun 2013, atingindo US$ 117,5 bilhões.
Não podemos esquecer uma coisa fundamental. Considerando apenas o comércio exterior em si, e não as atividades produtivas que o antecedem, a importação gera bem mais impostos que a exportação. Quando um rico compra o seu uísque importado, portanto, está bancando educação, saúde, construção de pontes e sistemas de esgoto.
CAMOCIM INFORMADOS
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