terça-feira, 19 de agosto de 2014

METALÚRGICO DE JOINVILLE CONTA SUA HISTORIA DE VIDA E DIZ QUE A CULPA É DO PT


''A CULPA É DO PT''.

Boa tarde, não gosto de me expressar aqui, mas os fatos, os deboches, a falta de conhecimento, a ignorância ou até mesmo achar que falar mal do governo está na moda agora, dizer que está tudo errado. Alienação. Por isso vou expor minha opinião, meu desabafo, uma realidade que eu vivi, sabe lá, mostrar o que eu penso sobre tudo isso.

Sou um peão de fábrica, que trabalho desde os meus 9 anos de idade, comecei vendendo picolé e algodão doce, detalhe: fazia isso com amor. Pois todo dinheiro que ganhava era para levar para a minha mãe (agricultora e dona de casa), isto é, ajudar no sustento da casa. Depois com 12 anos após a morte de meu pai, aposentado por invalidez, com um salário mínimo que era uma miséria na época (uma média de 60 dólares) ficou tudo bem mais difícil. Fui trabalhar em uma estofaria para ganhar meio salário mínimo e cheguei a ficar seis meses sem receber, salário atrasado, mesmo assim tinha que continuar lá pois não tinha jovem aprendiz, estagiário, etc. Trabalhei dois anos e meio. Vida fodida, cruel, mas tinha que agüentar. Um fato que marcou muito essa época foi um dia em que não se tinha nada para comer à noite, o cansaço era grande, dormia-se mesmo. No outro dia a fome acordou comigo, porém tinha que trabalhar e fui. Quando sai da minha casa, me virei para trás e vi minha mãe chorando, pois ela sabia que eu estava com fome e não tinha nada para comer. 

Hoje, eu tenho 3 filhas e entendo que a dor dela era imensamente maior que a minha pois fico triste quando as minhas filhas me pedem para comprar uma pizza e a grana está meio curta e digo que não dá, tento ser durão. Meia hora depois, eu digo “tá bom, vamos comprar no crédito mesmo”, hahaha, e todo mundo fica feliz. 


Aí veio a adolescência, sempre tive uma forte influência punk, tanto pelas músicas, quanto na política. Poucos entendem o que eu falo, ao usar uma camisa do Ramones, ou escutar Garotos Podres, tinha que se identificar. Não era moda, era foda. Aí veio um professor de São Paulo, e nos falou que estava surgindo uma nova esperança, uma estrela, um partido cujo líder era um peão barbudo que ia mudar a história do nosso amado Brasil. Aquilo me fascinava, rock progressivo, Diretas Já, fim da Ditadura e vamos embora.

Uma noite que eu nunca vou me esquecer foi quando ele nos deu cinco latas de spray e disse “vão se expressar em seus muros com uma frase: Lula Lá”. Eu me senti o Che Guevara. Hahaha. Quero contar com orgulho essa história para os meus netos; nós perdemos a eleição.

Seguia eu, com meu All Star velho (comprado usado, é claro), agora já trabalhando em um mercado como repositor e usando uma maquininha de colar etiquetas, que era o símbolo da inflação naquela época, levei alguns esporos por causa dela. Não tinha grana, não tinha moto, não tinha carro, não tinha celular, não tinha curso técnico, não tinha Pronatec, não tinha Ciência Sem Fronteiras, não tinha FIES, não tinha grana, não tinha emprego, mas tinha que seguir, pois tinha sido demitido por um erro meu. E aí era época de batalhão, mas mesmo assim consegui arrumar emprego, escapei do serviço militar, graças a Deus! Como dizia Raul “mamãe, eu não queria”. Impeachment, cara pintada, caiu o caçador de Marajá e eu tava lá na Praça da Bandeira.


Aí as paqueras, os namoros, já estavam bem avançados, mas cara, pra ti fazer um lanche, um simples X-salada, ou levar uma gatinha no cinema era foda mesmo! E a indignação com o sistema, com o governo, era grande. Só se falava em divida externa e FMI, mas a estrela estava lá, brilhando e eu segui acreditando. Utopia sabe lá. 

Até que em 2002 a esperança venceu o medo, o peão venceu a eleição e as mudanças estão aí, acontecendo. Fiz o meu curso técnico, construi minha casa na praia, tenho um celular que tira retratos, já viajei de avião, dormi em hotel, comi em restaurantes, tenho carro, minhas filhas todas falam sem medo ou insegurança que vão fazer faculdade, comprei até um All Star novo, hahaha, mas eu continuo trabalhando e muito. 

Que droga! Não é isso que muitos estão falando? Agora com o PT estou trabalhando como nunca, isso é hilário, pois antes como nós queríamos trabalhar, hein?! Lembram das filas, aglutinações, em frente das firmas? Alguém se lembra da Embraco? As pessoas sendo escolhidas como gado ou escravos? Os jovens não têm obrigação de lembrar, pensam que sempre foi assim, disputados a tapa pelo mercado de trabalho e muitos da minha idade, hahaha, não vamos entrar muito nesse detalhe, já se esqueceram disso. Lembram da Tupy? Que era um mar de ciclistas. Joinville, a cidade das bicicletas. E hoje, hein?! Falta vaga no estacionamento e os carros todos novos, coisa linda hein? Todos os peões com o vidro fechado, carro tem que ter ar condicionado, que orgulho disso! Cadê as bicicletas? 

“Mas tá ruim, esse governo não presta! Pois queria pegar um carro zero esse ano, mas tenho que ajudar meu outro filho, ele também vai começar a facul esse ano”. Que ruim isso, né? Escutei isso na empresa esses dias. Quando ouvi isso, não critiquei, sai rindo, fiquei muito orgulhoso. Meu companheiro tem carro e dois filhos na faculdade pois a evolução da nossa sociedade está aí, não estamos mais trabalhando só para comer mas para comprar carro zero, pagar faculdade para filho. Olha, até dá para dar uma turbinada nas esposas. Vaidade! Isso não é fantástico? E lembrarem-se das nossas mães, coitadas, assoprando um fogão a lenha todas despenteadas. E agora hein? Nossas gatas podendo até cuidar da sua beleza. 

Falando em esposas, vou fazer uma tese para mostrar como a nossa sociedade evoluiu. Com uma galinha, hahaha, isso é bem coisa de peão: Minha mãe tinha que comprar um pintinho, criar a galinha, matar para comer. As esposas compravam a galinha congelada, picavam, para comer. E hoje? Uma mulher de 20 anos sabe cortar uma galinha? Hahahaha. Companheiro experimente fazer isso, leve uma galinha inteira para casa que já vão perguntar “não tinha coxa e sobrecoxa ou peito fatiado? Quem é que vai picar isso?” Isso não é fantástico? Isso é evolução, gente! Ah, mas esqueci! Ainda tenho que comprar a galinha, que foda, né? Hahahah. 

Agora vou ser cruel: para quem acredita em papai Noel ou cegonha, não existe, não vai existir, um governo que irá te sustentar em casa. Os críticos do bolsa-família que me poupem pois eu acho que ninguém que recebe isso está feliz, pois feliz é quem não precisa desse auxílio e ninguém consegue viver exclusivamente com o bolsa-família. Trabalhar, produzir, faz parte. Tem que ser feito. O que tem que continuar mudando é a evolução da nossa sociedade para a melhor por isso é PT, sou Dilma, acredito na nossa estrela, acredito em mais mudanças, em mais futuro, não quero voltar a criar galinhas.

Um abraço do cabeludo.
Wanderlei Monteiro de Souza

CAMOCIM INFORMADOS

Texto de uma forma simples e com palavras que representam a classe trabalhadora deste país, com sua forma variável de se expressar.

Por: Wanderlei Monteiro (Cabeludo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário