Razões dos fracassos municipais
São muitas as razões que determinam o fracasso de uma administração
pública. A mais comum é, sem sombra de dúvida, o fato de que nenhum gestor
público gosta de ser fiscalizado e controlado. Quanto mais obscura a relação
entre os poderes, executivo e legislativo, melhor para os incautos. Por isso,
todo cidadão tem uma boa história para contar sobre a cidade onde vive.
Registros de imprudências administrativas que resultam sempre em sérios
prejuízos para o município, mas não para os seus autores.
Tendo em vista que os poderes hoje constituídos perderam a confiança da
população - as manifestações que tomaram as ruas do país inteiro mostraram isso
- não seria oportuno considerar a possibilidade da criação em cada município do
país de um Conselho Fiscalizador (CF), composto por pessoas da sociedade civil,
comprovadamente capacitadas, de reputação ilibada e aprovadas em um rigoroso
concurso público?
Mesmo considerando um sonho impossível a criação de um órgão com essas
características, pois só a classe política poderia concebê-lo através de um
projeto de lei, sonhar não custa nada. Vamos imaginá-lo criado.
O CF teria como atribuições fiscalizar e controlar tudo que diz respeito
ao interesse particular dos políticos que integram os poderes executivos e
legislativos de um país como o nosso, tão generoso com a classe política.
Afinal, é o povo que elege os integrantes desses poderes para administrar e
legislar as causas do seu interesse e não do interesse deles. É um escândalo,
por exemplo, os políticos determinarem os índices dos seus próprios aumentos
salariais e se concederem privilégios e mordomias, desviando recursos cujo
destino poderia ser bem mais nobre.
Sob os olhos atentos do CF, não passariam impunes os executores de uma
prática que leva os municípios a ruína em pouco tempo: as nomeações
indiscriminadas de políticos, eleitos ou não, familiares, cabos eleitorais e
apadrinhados para cargos de confiança do baixo, médio e alto escalão dos
governos municipais. Sem falar na condenável troca de pessoal que o prefeito de
uma cidade faz com o colega de outra cidade, tão pobre e tão generosa quanto a
dele.
Práticas condenáveis como estas, realizadas sob o manto protetor da
impunidade, passam a impressão de que nos municípios brasileiros não existem
técnicos de carreira preparados para ocuparem os cargos da administração
pública. O que não é verdade. Na maioria são pessoas preparadas e capacitadas
para administrar as cidades que escolheram para viver e trabalhar. Porém, esses
competentes técnicos de carreira acabam submissos a políticos e a cabos
eleitorais sem nenhum conhecimento dos órgãos para os quais são indicados
politicamente.
A presença do técnico de carreira na direção de órgãos públicos funciona
como antivírus aos desmandos e à corrupção, além de evitar o assalto aos cofres
públicos através de investimentos ilegais e desnecessários.
O ingresso no serviço público não deve ser uma doação e sim uma
conquista, apenas para os aprovados nos disputadíssimos concursos públicos. Não
é o caso de quem exerce uma função pública, vereadores, prefeitos e cargos
comissionados. Esses conquistam seus espaços na vida pública através do voto
popular ou da nomeação. Essa função é, portanto, temporária. Aquele que não a
exerce com ética e responsabilidade, espera-se que seja reprovado nas urnas,
embora nem sempre isso ocorra. Todos sabem que muitos políticos se perpetuam em
seus cargos através da criminosa prática da compra de votos.
É por isso que o cidadão que pensa em melhorar o município onde vive
deve seguir e difundir o sábio conselho do escritor Eça de Queiroz: "Os
políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente e pela mesma
razão". Sabemos, entretanto, que as exceções são raras, mas existem.
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