segunda-feira, 10 de junho de 2013

Não toque em meu companheiro



Não sei se é pelos primórdios do petismo, mas como eu gosto da palavra companheiro.
Companheiro, aquele que compartilha o pão,
que passa o sufoco junto,
que ajuda a construir pontes,
que é silêncio e colchão de carinho quando o mundo fica de ponta cabeça,
que chora quando a gente está triste e gargalha quando obtemos uma vitória que pode até ser gita, mas que o ali junto logo eleva à condição de gigante.
O que compartilha as dores e os amores.
Tenho companheiros e companheiras assim e em muitas arquibancadas, mesmo naquelas em que não posso agitar minhas bandeiras. Não são muitos, mas parece uma legião, tamanha é a força, unidade, carinho e atitude quando compartilham comigo o pão.
O pão da vez é a ditadura que se instalou na empresa em que trabalho e que acabou me atingindo em cheio dia 23 de março de 2007, por injunções da política mais rasteira. Assim, sem que nem por quê. Até porque ditadura por ser golpe, não se dá ao trabalho de dar explicação. 
Apenas executa, com o tom sombrio da arbitrariedade. Sou descomissionada de uma função que conquistei com décadas de trabalho e por movimentos das trevas, das sombras e sem me dar a menor chance de defesa e isso após eu ter enfrentado um 2006 de travessia do Rubicão na minha saúde. Égua!

A força da solidariedade -A dor que enfrento hoje e a força da solidariedade me faz recordar um episódio da época do governo Collor, em 1991.

Em 27 de setembro de 1991, no período do governo Collor, a Caixa Econômica Federal demitiu 110 colegas que fizeram 21 dias de uma grande greve. A ordem da demissão coletiva partiu do então presidente da Caixa, Álvaro Mendonça. 

Diante do brutal ataque ao emprego e à vida de 110 colegas e suas famílias, a Fenae - Federação nacional das associações do Pessoal da Caixa, Apcefs e sindicatos fizeram um cordão solidário contra o ato antissindical e  desumano, na minha opinião uma das mais belas campanhas do movimento sindical bancário e que expressou a solidariedade numa tocante campanha que dizia "Não toque em meu companheiro!". O companheiro era simbolizado por uma flor despedaçada no caule e que mão cuidadosa protegia para amparar e manter em pé a flor já brutalmente agredida. Não tenho mais essa imagem, mas vou buscá-la junto à Fenae e quando tiver, publico aqui.

Os 110 colegas foram reintegrados em 4 de outubro de 1992 (Collor fora impichimado em 29 de setembro de 1992) e no longo ano em que ficaram sem salários, tiveram o sustento assegurado pela solidariedade de 35 mil bancários da Caixa que depositavam todo dia 20 de cada mês 0,3% de seus salário num fundo solidário que manteve o longo inverno de 1 ano sem salário. O companheiro Jair Pedro Ferreira foi um  desses 110 colegas.
Após a reintegração, os 110 bancários tiveram os 21 dias da greve de 1991 descontados em 5 parcelas, mas isso ficou pequeno diante da imensa e maravilhosa vitória de criar e manter solidariedade e esperança na luta e nos companheiros.
A imagem, o símbolo daquela mão que acolheu com ternura e firmeza a flor cortada e com todo cuidado impediu que se despedaçasse, ficou gravada na memória da minha pele. Para sempre.

Então, quando leio, vejo, passo ou pressinto injustiças, me vem à mente aquela flor cortada, mas acolhida pela generosidade. A mesma que me sustenta neste difícil, doído momento em que, mais uma vez, ajudada por companheiros estou pulando uma grande, imensa fogueira.
Um dia conto com detalhes esta fogueira e as trevas que a precederam.
Por Vera Paoloni - Blog da Vera(Belém/Pará)

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